Leslie
Aloan, Presidente do INASE
No dia 17 de Julho, comemora-se
no Brasil o Dia da Proteção das Florestas. O reflorestamento vem ganhando,
cada vez mais, importância e força. Esta prática positiva, seja por objetivo
comercial ou ambiental, consistindo na restauração da mata original de um
determinado lugar, representa um conjunto de ações que ajudam e protegem o
nosso ecossistema. Trata-se da limpeza dos terrenos, do plantio de novas
árvores no lugar das cortadas, do cuidado com as novas plantas e da proteção
dos animais e vegetais que as circundam respeitando e garantindo a
biodiversidade local. Vem a propósito do tema um artigo que publiquei há pouco
de título “O primeiro Sexo no Mundo”, editado pela Editora Monte Castelo, Rio
de Janeiro, 2015, que reproduzo abaixo:
O Encontro das Lendas
Nesse dia a floresta toda acordou muito agitada. Todos
falavam ao mesmo tempo e até os animais agiam de modo desassossegado. As vilas
estavam enfeitadas esperando alguma novidade. Era dia 22 de agosto, dia do
folclore.
A novidade anunciada era o encontro das lendas pela
primeira vez. Seria às margens do rio Solimões, em Codajás, uma pequena cidade
com menos de 20 mil habitantes, em plena floresta amazônica.
Lá estaria o Boitatá, uma cobra de fogo que protege as
matas e os animais. Persegue e mata aqueles que desrespeitam a natureza. Este
mito, de origem indígena, é um dos primeiros do folclore brasileiro. Este
personagem é descrito em relatos do padre jesuíta José de Anchieta, em 1560. Na
região nordeste, o boitatá é conhecido como "fogo que corre". Foi o
primeiro a chegar.
O Boto tinha presença confirmada e isso agitava as
donzelas das cidades na periferia. Esta lenda também surgiu na região
amazônica. Ele é um jovem, bonito e charmoso, que encanta mulheres em bailes e
festas. Após a conquista, conduz as jovens para a beira de um rio e as
engravida. Antes de a madrugada chegar, ele mergulha nas águas do rio para
transformar-se em um boto. O Solimões é o seu rio predileto. As senhoritas que
fiquem alertas. Ele estava sendo ansiosamente esperado.
O Curupira, assim como o boitatá, também é um protetor
das matas e dos animais silvestres. É um anão de cabelos compridos e com os pés
virados para trás. Persegue e mata todos que desrespeitam a natureza. Quando
alguém desaparece nas matas, muitos habitantes do interior acreditam que é obra
do curupira.
A Mãe-D'água se assemelha muito à sereia, com o corpo
metade de mulher e metade de peixe. Com seu canto atraente, consegue encantar
os homens e levá-los para o fundo das águas. Nadava à beira do Solimões
cantando e mostrando orgulhosamente os seus lindos cabelos negros.
A Mula-sem-cabeça é fruto de um romance de uma mulher com
um padre. Como castigo, em todas as noites de quinta para sexta-feira, é
transformada num animal quadrúpede que galopa e salta sem parar, enquanto solta
fogo pelas narinas (apesar de sem cabeça). É a lenda.
A Comadre Florzinha é uma pequena fada que vive nas
florestas do Brasil. Uma graça. Vaidosa e maliciosa possui cabelos compridos e
enfeitados com flores coloridas. Vive para proteger a fauna e a flora. Pulava e
cantava junto com suas irmãs. Elas vivem aplicando sustos e travessuras nos
caçadores e pessoas que tentam desmatar a floresta.
Iara, também conhecida como a “mãe das águas”, oriunda de
uma lenda de origem indígena, é uma sereia morena de cabelos negros e olhos
castanhos. Costuma viver nas pedras das encostas dos rios, atraindo os homens
com seu belo e irresistível canto. As vítimas seguem Iara até o fundo dos rios,
local de onde nunca mais voltam. Os poucos que conseguem voltar acabam ficando
loucos em função dos encantamentos da sereia. Neste caso, conta a lenda,
somente um ritual realizado por um pajé pode livrar o homem do feitiço. Relatam
os índios da região amazônica que Iara era uma excelente índia guerreira. Os
irmãos tinham ciúmes dela, pois o pai a elogiava muito. Certo dia, os irmãos
resolveram mata-la, mas ela se antecipou e os matou primeiro, como defesa.
Fugiu para as matas, mas o seu pai a capturou e, como punição, foi jogada no
rio Solimões. Os peixes que ali estavam a salvaram, e como era noite de lua
cheia, ela foi transformada numa linda sereia.
O Saci-Pererê também esteve lá. É um dos personagens mais
conhecidos do folclore brasileiro. Possui até um dia em sua homenagem: 31 de
outubro. Surgiu entre os povos indígenas da região Sul do Brasil, durante o
período colonial. Ao se expandir para o norte do país, o personagem sofreu
modificações devido às influências da cultura africana. O Saci transformou-se
num jovem negro com apenas uma perna, pois, de acordo com o mito, havia perdido
a outra numa luta de capoeira. Passou a ser representado usando um gorro
vermelho e um cachimbo, típico da cultura africana. Apesar de uma perna só, era
o mais animado dançarino das festividades.
O Lobisomem e os vampiros não foram convidados por não
serem originários das matas brasileiras. Aqueles esnobes europeus nem souberam
da festa, que durou três dias e três noites, embalada pela música das tribos
locais e pelas comidas das senhoras das cidades vizinhas. Os pássaros
reforçavam a cantoria, e os outros animais se exibiam em animação nunca vista naquelas
paragens. Até a coruja mal humorada aproveitou a comemoração. Ao final da
festança, todos foram embora, já com data marcada para o fuzuê do ano que vem.