Páginas

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Mudanças do Perfil da Atenção Médica no Brasil e no mundo

Leslie Aloan, Presidente do INASE


Algumas considerações devem ser observadas, já que delas derivam modificações importantes na assistência à saúde em nosso país.
  1.   A expectativa de vida aumentou no mundo e no Brasil
  2. Ocorreu uma redução acentuada da natalidade
  3.  A velhice se prolonga
  4.  As doenças crônicas se acumulam e se modificam
  5. O perfil de internação e mortalidade hospitalar modificou-se
  6. Os recursos são finitos
  7. Todos são iguais perante a lei (cada vez mais se exerce esta prerrogativa)

Em 1988, a Constituição Federal criou o Sistema Único de Saúde. E então se dá a universalidade do atendimento. E a clientela de trinta e oito milhões de brasileiros que contribuíam para a Previdência em 1988, atinge hoje algo em torno de 200 milhões. Em 13 de setembro de 2000 foi promulgada a Emenda Constitucional 29. Em dezembro de 2008 foi abolida a CPMF. As tecnologias diagnósticas e terapêuticas evoluíram. 

O número de leitos não acompanhou a demanda.

No entanto, ainda existe o mito da hospitalização, por vários motivos, como por exemplo:
  1. Está melhor cuidado em um Hospital
  2. Tem muito mais recursos do que em casa
  3. Não tenho tempo para cuidar dele
  4. Não tenho condições financeiras para cuidar dele
  5. O Plano de Saúde cobre ou é obrigação do Estado
  6. Agiliza os exames
  7. Meu amigo conseguiu uma vaga no Hospital (16%)
  8. Se falecer, o Hospital fornece o atestado de óbito

No entanto, com a internação ocorre:
  1. Mudança desfavorável de ambiente
  2. Morbidade hospitalar cada vez maior (1:300)
  3. Idosos necessitam acolhimento, carinho familiar
  4. Custos e benefícios desproporcionais
  5.  Procedimentos de resultados duvidosos em determinado grupo de pacientes
  6. Temas pontuais desfavoráveis à hospitalização: Medicamentos trocados, morbidades como infecção hospitalar, embolia pulmonar, etc., quedas que complicam o fluxo, comitês de segurança necessários, novas tecnologias agressivas

De 1997 a 2007, a população com mais de 80 anos cresceu 65%, enquanto que a população total cresceu apenas 21%.  Em 2025, o Brasil terá a sexta maior população idosa do mundo, segundo projeção do IBGE. De 1940 até hoje, a expectativa de vida no país aumentou em 60% e atualmente é de 74 anos contra 62 na década de 80. Logo, esta população permanecerá idosa por mais tempo, estando suscetível ao surgimento de doenças crônicas. Neste contexto, o home care surge como uma alternativa eficaz.  Faltam leitos para todos.

No Brasil, tiveram início algumas ações:

Em 1988, consta na Constituição Federal, no artigo 229 – “Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”.
             
Em 04/01/1994, surge a lei número 8.842 que passa a ser a política nacional do Idoso, coordenada pela Secretaria do Estado de Assistência Social do Ministério da Previdência e Assistência Social.
                
Em 07/04/1999, a portaria de número 5.153 – artigo 1° institui o “Programa Nacional de Cuidadores de idosos”, através do Ministério da Previdência e Assistência Social e da Saúde.
Em 1 de outubro de 2003, lei 10.741: Estatuto do Idoso.
Em 2004 a OMS lança a Aliança Mundial para a Segurança do Paciente. 

Eventos adversos
            
O Século XXI é considerado o século do conhecimento. Estima-se que o conhecimento adquirido nos primeiros 50 anos será maior do que o incorporado nos últimos 500 anos.
                 
Em 2008, dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelaram que foram realizadas 234 milhões de operações no mundo, uma para cada 25 pessoas vivas.
             
Morreram dois milhões de pacientes nesses procedimentos e cerca de sete milhões apresentaram complicações, sendo que 50% das mesmas foram consideradas evitáveis. Cifras inadmissíveis no Século XXI levaram a OMS e a Universidade Harvard a iniciar uma campanha mundial (Cirurgia Segura Salva Vidas).
                
Foi estabelecida a meta de, até o ano de 2020, reduzir a infecção do sítio cirúrgico em 25%, que implica a elevação da permanência hospitalar em 10 a 15 dias, aumento do risco de re-hospitalização em cinco vezes e de necessidade de Terapia Intensiva (1,6%). Ainda duplica a mortalidade e tem um custo estimado nos Estados Unidos de 10 bilhões de dólares por ano. O Brasil participa desta Força Tarefa, através da ANVISA, OPAS e MS.
            
Cirurgia Segura

  • Objetivo 1: A equipe operará o paciente certo e o local cirúrgico certo
  • Objetivo 2: A equipe usará métodos conhecidos para impedir danos na administração de anestésicos, enquanto protege o paciente da dor
  • Objetivo 3: A equipe reconhecerá e estará efetivamente preparada para perda de via aérea ou de função respiratória que ameacem a vida
  • Objetivo 4: A equipe reconhecerá e estará efetivamente preparada para o risco de grandes perdas sanguíneas
  • Objetivo 5: A equipe evitará a indução de reação adversa a drogas ou reação alérgica sabidamente de risco ao paciente
  • Objetivo 6: A equipe usará, de maneira sistemática, métodos conhecidos para minimizar o risco de infecção do sítio cirúrgico
  • Objetivo 7: A equipe impedirá a retenção inadvertida de compressas ou instrumentos nas feridas cirúrgicas
  • Objetivo 8: A equipe manterá seguros e identificará precisamente todos os espécimes cirúrgicos
  • Objetivo 9: A equipe se comunicará efetivamente e trocará informações críticas para a condução segura da operação
  • Objetivo 10: Os hospitais e os sistemas de saúde pública estabelecerão vigilância de rotina sobre a capacidade, volume e resultados cirúrgicos
            
Os processos de segurança tiveram um grande avanço nos últimos 30 anos. A instalação e o funcionamento das Usinas Nucleares, a NASA após acidentes com vários lançamentos e voos tripulados evoluíram muito na segurança. A prospecção de águas profundas pela Petrobras também detêm expertise reconhecida na segurança.
             
A aviação civil é outro segmento que desenvolveu expressivo aumento da segurança. A mortalidade é de cerca de um passageiro para mais de um milhão. O valor do acaso (p) que em Medicina é de 0,05, em aeronáutica é de 10 elevado a potência 6.
            
No entanto, de cada 300 pacientes admitidos nos Hospitais, um vai a óbito.  Mais de 50% destes pacientes são cirúrgicos e evitáveis.
                
Hemocentros e a Anestesia foram pioneiros na cultura da segurança.
               
 Década de 70: 1 óbito para cada 5.000 anestesias.
              
Ano 2000: a mortalidade é de um paciente para 250.000 anestesias, com a adoção do check list anestésico.
                
Ano 2000 na África Sub-Saariana: 1 óbito para 100 anestesias.
Incidência desses eventos é de 7,6% em hospitais de ensino do Rio, sendo que a maioria das ocorrências poderia ter sido evitada.
Estados Unidos, Austrália, Nova Zelândia, França, Inglaterra, Dinamarca, Canadá e Espanha: a incidência de eventos adversos em hospitais variou de 2,9% a 16,6%.
               
No Brasil, 66,7% poderia ter sido prevenido. Este percentual é elevado, se comparado ao de outros países, como França (27,6%), Canadá (37%) e Dinamarca (40,4%). Portanto, a segurança é baixa em nosso país.

Criado o PROQUALIS

Em 1º de dezembro de 2009 comemorou-se o décimo aniversário do relatório internacional sobre erros no cuidado de saúde, iniciando a fase moderna de atenção em saúde. Com padrões de acreditação mais estritos e maiores exigências sobre a notificação de erros, os hospitais passaram a focar mais na segurança do atendimento. Estamos recentemente encontrando o equilíbrio entre a "ausência de culpa" e a responsabilidade na prestação de contas.  Aqui no Brasil o PROQUALIS / MS é a iniciativa emblemática.

Fontes:
Edmundo Ferraz, Colégio Brasileiro de Cirurgiões, PE,  2012
HEALTH AFFAIRS;29(1): 165-173, 2010.
Patient safety at ten: unmistakable progress, troubling gaps
Walter Mendes, pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp) da Fiocruz. 

http://www.agreecollaboration.org/pdf/agreeinstrumentfinal.pdf.WHO/IER/PSP/2008.08-1E@ Organizacao Mundial da Saude 2008

Nenhum comentário:

Postar um comentário