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quinta-feira, 2 de outubro de 2014

O Encontro das Lendas

Leslie Aloan, Presidente do INASE

       
Nesse dia, a floresta toda acordou muito agitada. Todos falavam ao mesmo tempo e até os animais agiam de modo desassossegado. As vilas estavam enfeitadas esperando alguma novidade. Era dia 22 de agosto, dia do Folclore.

A novidade anunciada era o encontro das lendas pela primeira vez. Seria às margens do rio Solimões, em Codajás, uma pequena cidade com menos de 20 mil habitantes, em plena floresta amazônica.

Lá estaria o Boitatá, uma cobra de fogo que protege as matas e os animais. Persegue e mata aqueles que desrespeitam a natureza. Este mito, de origem indígena, é um dos primeiros do folclore brasileiro. Este personagem é descrito em relatos do padre jesuíta José de Anchieta, em 1560. Na região nordeste, o boitatá é conhecido como "fogo que corre". Foi o primeiro a chegar.

O Boto tinha presença confirmada e isso agitava as donzelas das cidades na periferia. Esta lenda também surgiu na região amazônica. Ele é um jovem, bonito e charmoso, que encanta mulheres em bailes e festas. Após a conquista, conduz as jovens para a beira de um rio e as engravida. Antes de a madrugada chegar, ele mergulha nas águas do rio para transformar-se em um boto. O Solimões é o seu rio predileto. As senhoritas que fiquem atentas. Ele estava sendo ansiosamente esperado.

O Curupira, assim como o boitatá, também é um protetor das matas e dos animais silvestres. É um anão de cabelos compridos e com os pés virados para trás. Persegue e mata todos que desrespeitam a natureza. Quando alguém desaparece nas matas, muitos habitantes do interior acreditam que é obra do curupira.

A Mãe-D'água se assemelha muito à sereia, com o corpo metade de mulher e metade de peixe. Com seu canto atraente, consegue encantar os homens e levá-los para o fundo das águas. Nadava à beira do Solimões cantando e mostrando orgulhosamente os seus lindos cabelos negros.

A Mula-sem-cabeça é fruto de um romance de uma mulher com um padre. Como castigo, em todas as noites de quinta para sexta-feira, é transformada num animal quadrúpede que galopa e salta sem parar, enquanto solta fogo pelas narinas ( apesar de sem cabeça). É a lenda.

A Comadre Florzinha é uma pequena fada que vive nas florestas do Brasil. Uma graça. Vaidosa e maliciosa, possui cabelos compridos e enfeitados com flores coloridas. Vive para proteger a fauna e a flora. Pulava e cantava junto com suas irmãs. Elas vivem aplicando sustos e travessuras nos caçadores e pessoas que tentam desmatar a floresta.

Iara, também conhecida como a “mãe das águas”, oriunda de uma lenda de origem indígena, é uma sereia morena de cabelos negros e olhos castanhos. Costuma viver nas pedras das encostas dos rios, atraindo os homens com seu belo e irresistível canto. As vítimas seguem Iara até o fundo dos rios, local de onde nunca mais voltam. Os poucos que conseguem voltar acabam ficando loucos em função dos encantamentos da sereia. Neste caso, conta a lenda, somente um ritual realizado por um pajé pode livrar o homem do feitiço. Relatam os índios da região amazônica que Iara era uma excelente índia guerreira. Os irmãos tinham ciúmes dela, pois o pai a elogiava muito. Certo dia, os irmãos resolveram matá-la, mas ela se antecipou e os matou primeiro, como defesa. Fugiu para as matas, mas o seu pai a capturou e, como punição, foi jogada no rio Solimões. Os peixes que ali estavam a salvaram, e como era noite de lua cheia, ela foi transformada numa linda sereia.

O Saci-Pererê também esteve lá. É um dos personagens mais conhecidos do folclore brasileiro. Possuí até um dia em sua homenagem: 31 de outubro. Surgiu entre os povos indígenas da região Sul do Brasil, durante o período colonial, e ao se expandir para o norte do país sofreu modificações devido às influências da cultura africana. O Saci transformou-se num jovem negro com apenas uma perna, pois, de acordo com o mito, havia perdido a outra numa luta de capoeira. Passou a ser representado usando um gorro vermelho e um cachimbo, típico da cultura africana. Apesar de uma perna só, era o mais animado dançarino das festividades.

O Lobisomem e os vampiros não foram convidados por não serem originários das matas brasileiras. Aqueles esnobes europeus nem souberam da festa, que durou três dias e três noites, embalada pela música das tribos locais e pelas comidas das senhoras das cidades vizinhas. Os pássaros reforçavam a cantoria, e os outros animais se exibiam em animação nunca vista naquelas paragens. Até a coruja mal humorada aproveitou a comemoração. Ao final da festança, todos foram embora, já com data marcada para o fuzuê do ano que vem.


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